19-7-2004- Propostas para sector da carne

Os agricultores portugueses que se dedicam à engorda de bovinos para produção de carne enfrentam actualmente graves dificuldades que poderão levar à falência milhares de explorações agrícolas.
O sector vive em crise desde que surgiu a BSE, mas as condições de mercado agravaram-se nas últimas semanas; Neste momento, os preços pagos ao produtor estão aos níveis mais baixos de que há memória, abaixo do preço de custo, e mesmo assim o escoamento da produção é lento e difícil. A situação é particularmente grave para os animais de raça frísia, cuja carne nunca foi promovida e sempre teve preços mais baixos.
Nós, jovens agricultores, estamos apreensivos com esta situação que coloca em risco o futuro da pecuária mas não pretendemos baixar os braços. Com esta actividade que organizámos hoje queremos dar a nossa contribuição para promover a carne de bovino. Esperamos que esta iniciativa seja a primeira de uma campanha organizada e consistente; É lamentável que existam verbas da União Europeia para promover o consumo de produtos agrícolas e a boa carne que se produz na região nunca tenha sido alvo de promoção. Esta não é uma crise pontual. Apelamos aos colegas agricultores de todas as idades para que se unam em torno de organizações capazes de promover e comercializar a carne a preço justo. Desafiamos os responsáveis das organizações existentes a apresentarem propostas e projectos concretos de certificação e criação de marcas para carne da região.
Exigimos o reforço da fiscalização no sector da carne, ao nível do transporte, comércio e qualidade dos produtos. Sabendo que as custos de produção são aproximados nos diversos países da Europa, desconfiamos que algo de errado se passa na produção ou no comércio quando é colocada em Portugal carne importada a preços abaixo do custo. Exigimos fiscalização e penalizações para os que infringirem as regras de segurança alimentar e de comércio justo. Não pode haver espaço para ilegalidades.
Exigimos um sistema de rotulagem com indicação da origem do animal, data e local de abate, que permita efectivamente seguir o bife “do prado ao prato” e responsabilizar todos os intervenientes no processo. Rejeitamos a proposta da Comissão Europeia de substituir a designação nacional na rotulagem por uma designação genérica de origem EU. Os consumidores portugueses que preferem produtos nacionais tem o direito de saber de onde vem aquilo que comem.
Reclamamos o rápido levantamento do embargo europeu à carne bovina em condições que permita efectivamente a exportação da carne nacional; depois de todo o esforço efectuado em Portugal no combate à BSE, sabendo que a doença existe também noutros países da União Europeia, não podemos aceitar de ânimo leve que o nosso país receba todo o tipo de carne (alguma de qualidade duvidosa) e não possa exportar os seus melhores produtos.
Não compreendemos que a carne de vaca se mantenha nos talhos ao mesmo preço depois das quebras que sofreu na produção, justificando-se com o baixo preço da carne importada; Desafiámos o sector do comércio a baixar os preços ao consumidor de forma a aumentar as vendas, em vez de querer obter grandes margens com cada vez menos carne de origem nacional. Se não houver solidariedade na fileira da carne, não restará outra hipótese de sobrevivência que não seja a venda directa do produtor ao consumidor.
Esta crise não pode continuar. Por este caminho assistiremos primeiro ao encerramento de muitas explorações agrícolas mas depois esse abandono da agricultura vai afectar o meio rural e todo o país.

A Direcção da AJADP