31-7-2009 - PREÇO JUSTO PARA A PRODUÇÃO DE LEITE

PREÇO JUSTO PARA A PRODUÇÃO DE LEITE! (Comunicado conjunto com outras organizações agrícolas)
A situação na produção de leite é cada vez mais dramática. Apesar de todas as manifestações públicas já realizadas, poucos resultados conseguimos. Por isso, desta vez os produtores de leite convidam a comunicação social para vir ao terreno, conhecer a realidade de uma vacaria. Trata-se da Casa Agrícola Martins da Póvoa, em Vilar do Pinheiro, Vila do Conde, uma sociedade agrícola fundada em 2003 por dois irmãos, jovens agricultores, que investiram num estábulo novo para produzirem leite de qualidade com boas condições para os animais e são agora confrontados com um preço abaixo dos custos da produção das suas 70 vacas, quase 2000 litros por dia. De facto, diversas empresas de lacticínios comunicaram novas baixas de preço ao produtor, menos 2 a 3 cêntimos a partir de 1 de Agosto. O Preço médio ao produtor ficará entre 24 e 27 cêntimos, mas há muitos produtores a receber preços inferiores.
Estes preços não cobrem os custos de produção!
Produzir um litro de leite custa muito!
O custo por litro de leite varia entre explorações, mas, nas condições actuais, podemos apontar 40 cêntimos, dos quais 35 cêntimos para as despesas correntes, contando rações, palhas, gastos veterinários, adubos, gasóleo, sementes, manutenção dos equipamentos, desinfectantes, mão-de-obra e 5 cêntimos para amortizar o investimento.
Produzir leite dá muito trabalho!
A produção de leite depende muito do trabalho familiar não remunerado. Diariamente, os produtores de leite ordenham as vacas, alimentam-nas, fazem limpezas, tratamentos e cuidam dos campos (sementeiras, sachas, regas, colheitas), 7 dias por semana. Poucos são os que podem tirar alguns dias de férias. Um estudo recente da União Europeia, relativo ao ano de 2006, refere que as explorações agrícolas da UE tinham margem bruta positiva mas davam prejuízo ao considerar os encargos atribuídos à terra, ao capital investido e a mão-de-obra familiar.
Por isso, os produtores de leite, por toda a Europa, estão a exigir um PREÇO JUSTO:
“O preço que os produtores recebem tem vindo a descer desde 2001. Ao mesmo tempo, os custos de produção (ou seja, custos de rações, gasóleo, adubos) têm aumentado dramaticamente. Dezenas de milhares de agricultores deixaram a produção leiteira, com terríveis consequências para muitas regiões da Europa. Para contrariar esta tendência, os preços pagos ao produtor devem cobrir os custos. Um preço do leite justo é bom para todos (produtores e consumidores). Um preço justo dos produtos lácteos permite um futuro seguro para a produção leiteira nacional. Torna possível preservar as paisagens rurais, paisagens únicas para relaxar e desfrutar. Dá um futuro às zonas rurais. Assegura a qualidade da produção e a soberania alimentar.” (European Milk Board)
Os nossos colegas europeus também exigem 40 cêntimos!
Para fugir às suas responsabilidades, o Ministro da Agricultura tem afirmado que outros produtores da Europa recebem preços inferiores. Como de costume, esqueceu algumas coisas. Esqueceu dizer que esses produtores recebem mais ajudas da PAC que os portugueses e que apesar disso já ocorreram violentas manifestações, com invasão de supermercados, bloqueio de centrais de distribuição e fábricas de lacticínios, cortem de estradas, etc. Também os hipermercados nos acusam de não sermos “competitivos” com os preços lá de fora, mas os colegas Europeus também estão a exigir 40 cêntimos como preço justo.
Não nos serve um acordo qualquer!
Indústria e Distribuição parecem continuar de costas voltadas e não comunicaram até agora qualquer acordo que garanta o escoamento da produção portuguesa. Contudo, temos de avisar que de pouco serve escoar a produção se o preço não cobrir os custos de produção; A importação de leite a preços de saldo não pode ser substituída pela compra de leite português ao preço da chuva.
Os hipermercados entregam o fabrico das “marcas brancas” à indústria que garantir o melhor preço. Assim, a indústria que menos pagar ao produtor é que consegue o negócio. Quem “aguenta” é produtor. Isto é um mercado selvagem!
O governo tem muitas responsabilidades na situação actual:
- Nos últimos 4 anos, considerou que o sector do leite não precisava de apoio ao investimento e só agora corrigiu o erro, quando já ninguém tem capacidade para investir;
- Aceitou o fim das quotas leiteiras e o aumento de 5% da quota europeia, a “aterragem suave”, contra a opinião expressa de todas as organizações representativas do sector;
- Prometeu vezes sem conta “20 milhões de euros” mas ainda não activou nenhuma ajuda depois do “exame de saúde” da PAC em Novembro passado;
- Não sentou à mesa representantes dos produtores, indústria e distribuição, ao contrário de outros países, como França e Espanha, onde já foram assinados acordos tripartidos;
- Continua passivo perante a comissão europeia que insiste no fim das quotas leiteiras, recusa-se a mudar o rumo da política seguida nos últimos anos e propõem que os governos resolvam o problema com ajudas nacionais.
- Demorou 4 anos a legislar sobre o licenciamento das explorações, um processo que só vai complicar e aumentar os custos de produção.
Por isso, atendendo às suas responsabilidades acrescidas, exigimos ao governo:
- Atenção ao mercado, ao respeito pelas regras da concorrência, à qualidade do leite importado;
- Que trabalhe por um acordo entre produtores, indústria e distribuição que garanta um preço justo para fazer face aos custos de produção;
- Ajudas directas urgentes aos produtores, ao mesmo nível das ajudas nacionais e regionais concedidas em Espanha e noutros países da Europa.
- Que o adiantamento do RPU, previsto para Outubro, seja também pago aos milhares de agricultores que sejam sorteados para “controlo”.
A produção de leite é um trabalho diário e a luta pela sobrevivência do sector também não vai parar neste Verão. O leite está a ferver e este Verão vai aquecer. Os ânimos estão exaltados e é cada vez mais difícil conter a nossa indignação.
Os produtores de leite