28-5-2009 - MUITO LEITE E POUCO SUMO!

MUITO LEITE E POUCO “SUMO”

Perante a crise que afecta a produção de leite em toda a Europa, com produtores a receber pouco mais de 20 cêntimos/litro, “espreme-se” o resultado do Conselho de Ministros da Agricultura da UE realizado esta semana em Bruxelas e tira-se pouco “sumo”. Para além de manter as medidas de intervenção no mercado que até agora não surtiram efeito, foi anunciada a possibilidade de antecipar 70% das ajudas do RPU para 16 de Outubro. Essa decisão, apesar de positiva, será apenas um “balão de oxigénio” para quem chegar a Outubro e que se esgotará rapidamente se não forem tomadas medidas efectivas para recuperar os preços de mercado para valores que cubram os custos de produção.

Infelizmente, a Comissária Europeia da Agricultura continua irredutível na “aterragem suave” com aumento gradual das quotas até serem inúteis e não aceitou discutir propostas que apontavam para uma redução de alguns pontos percentuais na quota leiteira a nível europeu, de modo a reduzir a produção tal como se reduziu o consumo devido à crise económica. É caso para perguntar: De que serve ter um Português na presidência da Comissão Europeia se os interesses da agricultura portuguesa não são defendidos e a Comissão insiste nas políticas neoliberais que apenas interessam aos países do Norte da Europa?

Gostaríamos também de ouvir os diversos candidatos ao parlamento europeu pronunciar-se sobre estas e outras questões, atendendo ao facto da agricultura ter a principal fatia do orçamento comunitário e do parlamento europeu ter responsabilidades acrescidas nas políticas europeias com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa. Em concreto, que tencionam fazer no parlamento europeu para defender a agricultura portuguesa? Como pensam ajudar a produção de leite em Portugal a ultrapassar esta crise de preços? Concordam com o fim das quotas leiteiras? Que propostas têm para a política agrícola comum depois de 2013? Estão satisfeitos com a (não) implementação do PRODER e com o número de jovens agricultores (não) instalados na agricultura portuguesa desde 2005?

Nós, jovens agricultores, vemos também com muita preocupação as dificuldades de relacionamento entre as indústrias que escoam o leite produzido em Portugal e a distribuição que devia comercializar o leite português mas prefere importar leites a baixo preço de origem desconhecida. Pensámos que o governo tem obrigação de intervir com urgência nesta matéria, como mediador e fiscalizador.

Por último, queremos manifestar a nossa solidariedade com os colegas produtores de leite, que vivem grandes dificuldades mas estão a manifestar na rua o seu descontentamento de forma ordeira, pacata e responsável. Esperamos a mesma atitude de responsabilidade por parte de Indústria, Distribuição e Governo, antes que a produção de leite acabe em Portugal, aumente o desespero dos produtores e não seja mais possível conter o “direito à indignação”.
Vairão, 28 de Maio de 2009
A direcção da AJADP