COMUNICADO SOBRE AS DECLARAÇÕES DO MINISTRO DA AGRICULTURA

Na passada semana, o Sr. Ministro da Agricultura, a propósito de reivindicações de agricultores em vários pontos do país, produziu um conjunto de afirmações que nos indignaram porque não correspondem à verdade, tentam fugir às responsabilidades e colocam a sociedade contra os agricultores. Mais uma vez, o Sr. Ministro foi rápido a responder mas será lento a fazer alguma coisa.
Em declarações amplamente difundidas pela comunicação social, o Sr. Ministro afirmou que “este ano, aumentaram o leite e os cereais”. É falso. Este ano, 2008, sofremos descidas entre 5 a 9 cêntimos no preço do leite ao produtor. A carne de bovino regista os preços mais baixos em muitos anos. Também há notícias de baixa no preço dos cereais, embora ainda não se note no preço das rações que subiram 50% nos últimos dois anos, bem como dos adubos, fitofármacos e outros factores de produção.
A verdade é que o gasóleo agrícola aumentou 48% em dois anos, enquanto o gasóleo normal apenas 34%. A verdade é que há poucos dias o gasóleo agrícola estava 14 cêntimos mais barato em Espanha.
Para dizer que a agricultura é muito diferente das pescas, o Sr. Ministro também disse que “não há quotas”. Então as “quotas leiteiras”, em vigor até 2015, o que são?
O Sr. Ministro disse ainda que os portugueses compreenderiam mal que “estando a pagar os produtos agrícolas mais caros ainda tivessem aumentos de impostos para ajudar os agricultores”. Com o Ministro da Agricultura a falar assim, os portugueses nunca vão compreender qualquer ajuda ao sector.
O Sr. Ministro poderia ter dito que Portugal foi o país da União Europeia menos afectado com aumento de preços (dados Eurostat de Abril). Deveria também lembrar a diferença entre o preço pago ao produtor e ao consumidor. Que fez o Ministério para combater esse diferencial?
Pela forma como responde cada vez que os agricultores pedem alguma coisa, pela forma como “ataca” quem devia defender e apoiar, pela insensibilidade e desconhecimento da realidade que demonstra, podemos concluir que o Sr. Ministro não está interessado em apoiar o sector, mas apenas garantir que não se gastará mais um cêntimo com os agricultores. A curto prazo, pode ajudar a combater o défice, mas, num futuro próximo, quando os campos estiverem abandonados, quando todos os alimentos forem importados, o país vai perceber que a factura de abandonar a agricultura é muito mais elevada do que alguns apoios extraordinários ao sector, que até podiam ser reclamados a Bruxelas.
Por tudo isto, pela nossa parte, não pedimos nada, queremos apenas repor a verdade. Não pedimos a demissão do Sr. Ministro, porque ele já se demitiu há muito tempo de apoiar os agricultores. Resta-nos aguardar a atenção e intervenção do Sr. Primeiro Ministro, da Assembleia da República e do Sr. Presidente da República.
Vairão, 18 de Junho de 2008
A Direcção da AJADP